24 de abr. de 2014

Coisas que deixei de fazer por medo do espelho



Mulheres contam o que já deixaram de fazer por vergonha da própria aparência e como superaram o medo do espelho

por Daniele Nordi - delas.ig.com.br

Quem nunca quis disfarçar um “defeitinho” com alguma roupa, maquiagem, penteado ou qualquer outro artifício para ficar mais bonita? A procura por um visual mais bacana não tem nada de errado. É saudável cuidar do próprio corpo. O problema acontece quando o cuidado se torna uma obsessão ou é sintoma de insegurança com a própria aparência e atrapalha coisas rotineiras.

“A relação com o corpo tem a ver com os valores, as crenças e a história de vida de cada um. Quando uma pessoa começa a ter um grande prejuízo por ter complexos relacionados à sua aparência é hora de parar e pensar o que está acontecendo”, afirma Marília Salgado, psicóloga do serviço de psicologia e neuropsicologia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Mulheres que não se aceitam e estão sempre evitando expor o que consideram seus defeitos sofrem. “Algumas mulheres canalizam para o corpo diversas angústias internas e não conseguem separar os problemas”, diz Marília. Mas nem tudo está perdido. Muitas vão à luta e deixam de lado suas encanações, seja se aceitando por completo ou procurando uma solução. Nenhuma diz que é fácil, mas elas mostram que é possível.


Gordinha e poderosa


A publicitária e autora do blog Poderosas Gordinhas Alcione Ribeiro, 32, é uma lição de autoestima elevada. Acima do peso, ela encara o espelho de frente e ama o que vê. “Eu sou feliz com o meu corpo. Não me imagino mais magra. Quando era mais nova, a palavra ‘gorda’ me incomodava, achava um xingamento. Hoje eu vejo que sou gorda mesmo e que isso está longe de ser uma ofensa. É apenas uma constatação da realidade”, diz.

Quem vê a postura de Alcione hoje não acredita que ela já chegou a chorar em provadores de lojas por ver que a roupa que ela queria comprar não passava na batata da perna. Os braços mais grossos também eram um problema grave - ela não usava roupas sem manga de jeito nenhum. “No verão, eu passava muito calor. Tinha um complexo terrível. Só aos 24 anos vesti uma regata para ir trabalhar. Foi a primeira vez que deixei braços à mostra”, conta. A partir daí, começou a se aceitar.

Para não expor os conflitos que tinha com sua imagem, a publicitária sempre inventava uma desculpa para não ir com os amigos para a praia. “Em uma viagem que fiz para o litoral, acordava bem cedo, andava dois ou três quilômetros e quando via que não tinha ninguém conhecido por perto tirava a canga para poder pegar sol. Depois voltava e usava a canga o resto do dia”.

Por estar acima do peso, Alcione não descuida da saúde. “Hoje tenho nível de colesterol melhor do que minha irmã, que é magra. A gente precisa sempre se cuidar. Eu não faço apologia à obesidade. O que eu quero é que as pessoas respeitem as mulheres gordas e gostem de si mesmas”.

Parou de malhar por causa do cabelo

Se tem uma coisa que toda mulher gosta é de ter cabelos bonitos. Mas a beleza é subjetiva. Para algumas o liso tem mais apelo, outras amam o cacheado. No caso da atendente de suporte Jacqueline Maciel, 27, ter cabelo crespo sempre foi um problema.

“Deixei de fazer tanta coisa que não dá nem para contar tudo. Uma das piores coisas para mim foi ter que parar de malhar por causa do meu cabelo. Adoro academia, mas suo bastante e tinha que fazer escova absolutamente todos os dias. Cansei e larguei a malhação. Depois de cinco meses parada, engordei cinco quilos. Acabei assumindo meu cabelo para poder voltar a malhar como antes”, diz.

Jacqueline conta ainda que já chegou a inventar uma gripe para não ir trabalhar simplesmente porque não tinha dado tempo de fazer relaxamento no cabelo. Também deixou de sair com as amigas porque tinha vergonha da sua aparência. “Já cheguei a comprar ingresso para ir ao teatro e no dia não fui. Não consegui ‘relaxar’ meu cabelo e então perdi os R$35,00 que tinha pago”, lamenta.

Ao assumir sua aparência natural, Jacqueline ficou sem o namorado. Ela conta que ele gostava de seus cabelos lisos e o relacionamento terminou por causa disso. “Melhor para mim, que fiz a escolha correta: estar de bem comigo mesma”.

Chamar a atenção, não

Quando se mudou para a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a consultora de imagem Vanessa Versiani, 35, parou de usar salto alto. Ela achava que chamava muito a atenção das pessoas, e ser alta não ajudava em nada o problema. Isso fez toda a diferença em como ela passou a se enxergar nos três anos seguintes. Começou a ter dificuldade de se relacionar com as pessoas. “Eu tinha que ficar meio corcunda”, diz. Vanessa acabou abolindo seus amados sapatos de salto alto para não destoar.

Vanessa mede 1,74m e ela mesma admite que, pensando bem, nem é tão alta assim. “Eu não saía mais usando salto porque me sentia completamente desconfortável. E eu sempre gostei de sapato alto. Acho que a mulher fica super bonita”.

Um belo dia uma bota – sem salto, obviamente – ficou feia e não podia mais ser usada. Sua procura por um modelo parecido não teve sucesso. Foi então que ela resolveu nunca mais deixar de usar o salto alto. “Acho que a gente acaba enxergando problema onde não tem. Essa experiência me ensinou a me aceitar como sou em qualquer ambiente. Hoje eu viajo o Brasil todo por conta da minha profissão e nunca mais deixei de usar nada que eu quisesse”.

Rabo de cavalo? Nem pensar!

Sabe quando a mulher acorda atrasada para o trabalho e com o cabelo rebelde? Muitas optam pelo famoso e simples rabo de cavalo. Mas, para a designer digital Naele Pereira, 25, isto simplesmente não era uma opção. “As minhas orelhas de abano nunca permitiram que eu levasse uma vida normal. Eu sempre tinha que me policiar para que nem sequer a pontinha da orelha ficasse aparecendo. O meu complexo era enorme”, diz.

Naele escondia tão bem suas orelhas que demorou três anos para que seu namorado notasse que eram “de abano”, como ela define. “Eu não conseguia falar sobre isso. Até ter intimidade e confiança suficiente para conversar com ele demorou muito”.

“Eu não ia à praia com muita gente. Se tivesse que ir, jamais entrava na água. O cabelo molhado denunciava o meu problema”, conta Naele. Como não conseguiu superar seu trauma, há sete anos a designer se submeteu a uma cirurgia plástica para amenizar o complexo que a acompanhou durante toda a vida. “Depois que fiz a cirurgia, minhas encanações sumiram. Quando casei, fiz questão de prender todo o cabelo. Eu jamais tinha me sentido confortável comigo mesma antes, mas no dia do meu casamento eu era a mulher mais linda do mundo”.

Mesmo sem se arrepender de ter optado pela cirurgia, Naele diz que agora consegue ver tudo com outra perspectiva. Será que era preciso mesmo entrar na faca? “Hoje eu enxergo que as minhas orelhas não eram um defeito, eram apenas diferentes”, admite.

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